sexta-feira, 29 de maio de 2009

Ó Homem de Alcabideche

Ó Homem de Alcabideche
Que não te faltem sementes.
Que o labor do teu moinho,
Cuja vela o vento mexe,
Possa ter o remoinho
Que dispensa as correntes.
Em ano bom só terás
Não mais que vinte medidas
Pois que as restantes verás
Pelos javalis comidas:
Terra de pouca valia
Como eu próprio, agora surdo.
Deixei corte luzidia,
E o seu luxo absurdo.
Em Alcabideche estou
No campo silvas cortando
Com a podoa trabalhando.
Se alguém te perguntou
Se do teu trabalho gostas
Respondesses-lhe que sim:
Quem ama ser livre assim
De bom carácter dá mostras.
Orientado pelo amor
E dádivas que eu colhi
Deixei tudo sem rancor
E em tempo de primavera
A este chão me acolhi.

IBN MUQANA

Nascido em Alcabideche, no início do século XI, desempenhou cargos políticos nas cortes de Sevilha e Granada. Desencantado com as falsidades palacianas, voltou à sua terra para se dedicar à terra.






















http://olhares.aeiou.pt/o_moinho_abandonado%201051_foto1766788.html

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